Clube Da Luta
ANÁLISE CRÍTICA DO FILME
CLUBE DA LUTA
SÍNTESE
Clube
da Luta é um drama psicológico, dirigido por David Fincher
e conta a saga de Jack (Edward Norton), um
executivo yuppie neurótico que trabalha em uma empresa de automóveis e
busca no consumo a satisfação pessoal. Possui uma
vida automatizada e valores superficiais, emprego estável, um confortável
apartamento, além de se encontrar sozinho e viver apenas para si próprio. Mesmo
assim, há seis meses não era capaz de deitar e dormir e ter uma noite tranquila
devido a uma insônia. Jack se perdeu dentro de si mesmo, não conseguiu dar
significado as suas ideologias insignificantes de busca de bens materiais. Por isso, começa a frequentar sessões
terapêuticas para pessoas com doenças crônicas e não o fazia por caridade, mas
para se sentir melhor, porque quando encontramos pessoas com problemas maiores
que os nossos somos movidos por um sentimento de superioridade, nos sentimos
fortes e confortados por isso.
Quando
sabemos que alguém está prestes a morrer prestamos mais atenção no que estes
falam, e não nos preocupamos somente em esperar a nossa vez de falar. Jack não
se preocupava com ninguém, e quando ele encontrou Marla Singer, uma mulher
sensual e excêntrica, viu nela algo semelhante a ele, Marla também não tinha
nenhuma doença, entretanto, Jack não viu em Marla a oportunidade de se abrir,
ao contrário, viu uma concorrente, uma ameaça ao seu “disfarce”, talvez o medo
do desconhecido tenha impedido Jack de ter um relacionamento sincero com Marla.
O
filme também faz uma crítica contundente ao sistema capitalista que vivemos
hoje, onde somos avaliados não pelo que somos, mas pelo que temos. Jack se vê
manipulado por este “mundinho de sonhos e fantasias superficiais”, como ele
mesmo diz: “Essa é a mudança do sistema, o filme continua e ninguém na plateia
faz a mínima ideia”. Jack começa a não sentir-se atraído pelo seu trabalho,
pela sua vida e passa a viver na plateia, vive escravo do seu instinto de
conforto, simplesmente vendo a sua vida passar, sem estímulo, começa a buscar
dentro de si a pessoa que ele gostaria de ser e a partir daí, Jack “encontra
dentro de si”: Tyler (Brad Pitt); um homem que vive sem medo, sem distrações,
um homem que tem a capacidade de deixar o que não importa deslizar de verdade.
Não se apega a riqueza.
O
problema é que Jack não sabe tirar da sua fraqueza a força necessária para dar
a volta por cima. Jack tem as suas qualidades, porém não é autocrítico, não
coloca em questão os seus temores e não sabe extrair o negativismo e explorar
as suas potencialidades. Se fosse possível peneirar Jack e Tyler e extrair
somente suas qualidades, certamente teríamos um líder eficaz. Jack (cauteloso,
disciplinado e inteligente), Tayler (perseverante, audacioso e persuasivo) uma
combinação perfeita para um bom líder. Jack
não sabe lidar com Tyler, e passa a ser manipulado por sua mente. Tyler e Jack
encontram uma nova forma de terapia: dar socos e pontapés em lutas sem
finalidade; nada melhor para expelir suas angústias e frustrações. Mas ao
passar do tempo, o Clube da Luta vai alcançando patamares mais altos, e mais
perigosos. O Clube da luta torna-se o projeto destruição, movido em organização
e muitas células.
ASPECTOS SOCIOLÓGICOS E
SIMBÓLICOS DO FILME
Clube
da Luta retrata a sociedade contemporânea de uma maneira
nada convencional. Ao contrário do que muitos pensam o filme não trata sobre violência
extrema e gratuita, nem a banaliza. Clube da Luta é um filme sobre ideologia,
com uma crítica bem ácida sobre as relações sociais atuais. A explosão da
violência é utilizada como válvula de escape para o recalque provocado pelo
intenso consumismo atual e os enlaces de uma convivência burocrática e fútil.
O
filme tem uma mensagem extraordinária, não podemos deixar de extrair e explorar
as reflexões impostas pelo enredo. Não duvido de que existe dentro de cada um
de nós um “Tyler” escondido, porém não devemos assassiná-lo por completo,
podemos assassinar o que não nos convém, porém as qualidades sempre são bem
vindas. A melhor forma de superar o egocentrismo é servindo as pessoas, até
porque não somos o nosso emprego, nem o dinheiro que temos no banco e muito
menos o carro que dirigimos; somos seres humanos que precisamos uns dos outros
para encontrar sentido para nossa vida. As pessoas que não compreendem o
significado de se doar se perdem e se rendem aos “monstros” do seu ser. Não
basta querer mudar, é preciso escolher mudar.Jack
não consegue, entretanto, se livrar de sua insônia (causada pela falta de
perspectiva) quando repentinamente entra em sua vida Tyler Durden (fica
evidente que Jack e Tyler são a mesma pessoa), um carismático vendedor de
sabonetes com uma filosofia de vida distorcida.
Tyler faz seus sabonetes utilizando gordura humana que ele pega de
clínicas de lipoaspiração e os vende a lojas da alta sociedade americana,
ironizando a sociedade de consumo que se limpa com as “sobras” do próprio corpo.
Ele acredita que a autodestruição é o que faz realmente a vida valer a pena.
“A sociedade se auto-realiza no seu
conforto; encontra sua alma em seus automóveis, seus conjuntos estereofônicos,
suas casas, suas cozinhas equipadas”. Essa é a crítica que o diretor faz, muito
bem representada no filme. "Fomos criados pela televisão para acreditar
que um dia, seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E
estamos aos poucos aprendendo isso". Neste argumento do personagem Tyler,
vemos claramente o inconformismo, a angústia e o medo do homem ao "cair na
real", e perceber que sua vida é muito mais do que as regras que ele e o
sistema estabeleceram para viver.
A
modernidade parece ser constituída por suas máquinas, das quais os homens e
mulheres modernos não passam de reproduções mecânicas. A anarquia do Clube da
Luta é uma espécie de vanguarda e propunha estar fora dessa sociedade
consumista para analisá-la e depois destruí-la.
"A propaganda nos faz correr atrás de
coisas, trabalhos que odiamos, para acabar comprando o que não
precisamos". São essas e outras características que se deve enxergar em
Clube da Luta: um filme que justifica todas as acusações da influência negativa
que os filmes de Hollywood têm na socie
ÁGUA, SABÃO E VINAGRE
Além das críticas à sociedade
de consumo e a alienação, as linhas de diálogo do filme estão repletas de
tiradas místicas e simbolismos religiosos e até alquímicos. A água (sempre
associada ao simbolismo da limpeza e renovação) inunda o casarão de Tyler que
cai em pedaços. “toda vez que chovia tínhamos que cortar a energia. No final do
primeiro mês não sentia mais a falta da TV. Nem me importava com a geladeira
quebrada”, fala em off Jack com a imagem de Tyler cortando a energia dentro de
um porão inundado. O simbolismo da renovação da água associado ao processo de
progressivo desprendimento dos bens materiais.
O sabão
fabricado e comercializado por Tyler tem um simbolismo especial e irônico
associado, mais uma vez, ao banho e água. O sabonete (fabricado à base de
gordura humana que ele rouba do lixo das clínicas de lipoaspiração), vendido
nas lojas de grife norte-americanas, demonstra a ilusão da assepsia na
sociedade de consumo: um sabonete feito a partir de sobras do corpo humano,
isto é, a partir da obesidade provocada pelo próprio consumismo compulsivo.
Em outro momento a água é substituída
por um pó químico, que provoca forte queimadura, jogado na mão de Jack por
Tyler, num profundo significado simbólico de iniciação e de conscientização
forçada pela dor. O antídoto não é água, mas vinagre.
O vinagre possui um simbolismo que se encaixa nesse
diálogo que é um verdadeiro ritual de iniciação que Tyler impõe ao Narrador. Para
o Cristianismo o vinagre é o símbolo da paixão de Cristo e para a Alquimia é a
consciência.
Consciência
que Tyler quer criar com a própria dor da queimadura. Tyler impede que Jack
desloque sua consciência para tentar fugir da dor através das técnicas de
meditação dos grupos de auto-ajuda. “Aquilo é iluminação precoce”, critica
Tyler. A iluminação deve vir da dor, do confronto do próprio corpo com um mundo
abandonado por Deus. Aqui o vinagre é a consciência da dor de perder tudo para
se sentir livre.
Análise e compreensão
psicológica e Filosófica
Já sentiu
aquele tédio num domingo a tarde onde você se pergunta “O que faço agora? Não
tem nada de bom pra fazer”. Agora imagine fazer-se esse pergunta em todos os
dias da semana. É exatamente assim que Jack vive em um insuportável tédio e uma
necessidade imensa de encontrar um propósito em sua vida que o faça enxergar e
sentir que viver vale apena, e que ele pode sim, fazer algo importante e que
tenha sua graça e relevância.
Todos os
seres humanos, de uma forma ou de outra, precisam de um propósito em suas
vidas. Essa questão pode ser muito bem encarada quando chegar a um certo
momento de nossas vidas, e nos perguntamos “Por que eu estou aqui?” ou então
“por que estou vivo?” e “qual o meu propósito?” Boa parte da população mundial
esta sendo acometida por esta pergunta todos os dias, e em todos os dias
pouquíssimas pessoas conseguem chegar a uma resposta ideal. Alguns morrem sem
ao menos ter encontrado essa resposta...
Entretanto.
Jack, assim como a maior porcentagem da população mundial, tenta de forma
desesperada e destrutiva suprir esta necessidade universal através da prática
do consumismo, um erro tão grande, que podemos comprar tudo o que o dinheiro
pode nos ofertar, mas também podemos vender nossa felicidade ao preço mais
baixo possível. A princípio do consumismo se resume a está frase: “Objetos
caros e práticos são tudo aquilo que precisamos para suprir e dar fim as nossas
necessidades, até mesmo, as necessidades emocionais” (Um grande erro). Isso
altamente perceptível quando Jack descreve o que compra para ter uma suposta
vida ideal, perfeita e com os objetos e aparelhos mais belos e de ultima
geração. Mas, as insônias e transtornos psíquicos ainda continuam o
atormentando.
Depois de
encarar seus problemas com insônia, Jack tanta ir ao médico para pedir
medicamentos para poder dormir com tranquilidade, mas médico recusa dar-lhe
esses remédios, tendo em vista que, de fato, muitas drogas para insônia ou
antidepressivos devem ser apenas atores coadjuvantes em um tratamento psíquico
ou emocional. Não que eles não ajudem, porém, uma parte da mente chamada EU
(vontade consciente de tomar decisões) é que realmente deve agir para tratar os
problemas. Assim sendo, o médico o receita ir a grupos de ajuda social que usa
de tratamentos em grupo para ajudar os doentes anônimos. Jack vai então até
eles, e de alguma forma, tenta encontrar conforto no sofrimento alheio. Jack
tenta tornar-se útil para as outras pessoas e para si mesmo. Com um certo
tempo, ele até consegue, porém... Procurar ajuda e aprender com o sofrimento de
outros, pode ser uma forma de encontrar a si mesmo e encontrar a fonte de seus
maiores temores. Mas viciar-se no ato de mentir para assim fazer-se útil, é o
mesmo que mentir para si mesmo e enganar as lágrimas de outros.
Sigmund
Freud diria q este é um exemplo muito prático de seu tratamento chamado CURA
PELA FALA. Um tratamento que muitos utilizamos sem mesmo precisarmos ser
psicólogos formados. A ideia de a cura pela fala se dá desta forma: Falar de
suas dores mais profundas, pronunciar-se sobre seus temores mais intensos e suas
tristezas mais aterradoras, são a melhor forma de se curar. Resumindo em uma
frase: “A melhor maneira de nos ajudar, é permitir que os outros nos guiem.”
(Sigmund Freud). Quantas e quantas vezes você não precisou de alguém para
contar seus maiores medos, falar de suas raivas, de suas dúvidas, de seus
grandes erros e arrependimentos e logo em seguida sentiu-se aliviado em ter
contado para alguém? Pois esta é a cura pela fala.
“A dor do
isolamento só existe no isolamento,
Uma vez compartilhada se evapora.”.
Uma vez compartilhada se evapora.”.
(Sigmund
Freud)
Logo,
Marla e Jack fazem um acordo para que cada um tenha seus dias e seus horários
nos tratamentos, para que cada um possa aproveitar o tratamentos longe do
outro. Porém, Jack deixa de ir aos locais e começa viajar de avião para vários
lugares a procura de si mesmo ou algo interessante. Émile Durkheim, que foi um
grande sociólogo, tinha uma teoria sobre fatos sociais onde diz que temos que
tratar os fatos sociais como “coisas” e não deixar que nosso lado emocional e
nem nossas opções pessoais, afetassem nossos julgamentos. Jack fez algo muito
semelhante, entretanto, tratou a fonte dos fatos sociais como “coisas” ou seja,
os seres humanos agora eram meros “amigos descartáveis.” Cada pessoa, contava
uma história pessoal, como se tudo aquilo realmente importasse, mas era apenas
para suprir o tédio.
Finalmente,
em uma dessas viagens, Jack encontra Tyler (Brad Pitt) e esse “amigo
descartável” demonstra ser único e inigualável, pois ele despreza o consumismo
e age da maneira que Tyler tanto queria agir. Depois da breve conversa, Tyler
se fixa na mente de Jack de uma maneira muito privilegiada, mas quando ele
chega a seu apartamento, encontra tudo destruído de uma maneira muito
misteriosa. Essa cena abre a brecha para
que Jack vá à procura de Tyler e ele lhe conceda o favor de aceitar seu novo
“amigo” como seu novo inquilino. Entretanto, Tyler pede a Jack para soca-lo e
dos dois começam uma briga para aliviar suas tensões e temores. Ao longo do filme,
se forma o grande e poderoso, Clube Da Luta. E mais pessoas adentram a prática
de socar, chutar e bater uns nos outros, para assim, se divertirem e
extravasarem. Essa prática funciona como um tratamento, que Jack sempre esteve à
procura. Um tratamento que realmente tivesse um efeito sublime e eficiente.
Creio, com toda humildade, que eu
possa ter descoberto um novo tipo de tratamento em que todos nós praticamos de
alguma forma. Porém, ela é muito patrocinada pela pelas mídias. Chamo de
Tratamento por Violência. Este tratamento consiste em botar um lado oculto e
agressivo do inconsciente humano para fora, para assim aliviar suas tensões
emocionais através de práticas violentas.
O grande psicólogo Carl Jung, diria
que, este lado oculto seria o que ele chama de “Lado OBSCURO.” Lado este que
todos nós temos que é capaz de dominar o ser ético e correto que tentamos ser.
O Lado Obscuro é a parte da nossa mente inconsciente que possuí todos os
sentimentos negativos e agressivos, que se localiza no lado direito do cérebro
(Lado que possui os sentimentos mais fortes como raiva, ódio, desdém, desprezo
e etc.) é um lado que precisa se expressar, tendo em vista que, o lado direito
de cérebro é um lado não verbal, ou seja, não se expressa por palavras, mas por
atos.
Augusto Cury, com sua fascinante
teoria das janelas da memória, nos diria que, este tratamento abre as janelas
Killer. (Janela da memória que libera sentimentos e atos violentos e agressivos
e emoções que refletem intolerância e matam a alma.) O ato de abrir está janela
esfacela e arranca a verdadeira paz que um ser humano necessita. Afoga as
emoções e sufoca nossas alegrias. O fato que este tratamento é altamente
promovido por nossa sociedade capitalista, mas de uma forma digital. Como
assim? Tente trazer lembranças a sua mente no decorrer do que será descrito e
entenderá.
A
maneira digital do tratamento ocorre devido a influência dos jogos vídeo games,
filmes que envolvem atos violentos, e musicas que trazem para o inconsciente
sentimentos negativos. Tudo isso se fixa de maneira privilegiada na parte mais
oculta de nossas mentes, e assim, ficamos com uma pré-disposição a ser
violentos. Todavia, em quanto o tratamento ocorre de maneira passiva, ou seja,
somente pelos videogames e outras mídias que não provoquem atos físicos a
sociedade em quanta humanidade, estaremos seguros. Mas quando a influência do
tratamento se torna mais intensa, o “lado obscuro” abre cada vez mais janelas
killer e assume o controle do lado consciente e nos tornamos aquilo que não
somos, mas que no fundo queremos ser.
Por
fim, descobre-se que Jack e Tyler habitam no mesmo corpo. Tyler é um Alter-ego
que Jack criou, para que ele fosse e pudesse fazer tudo àquilo que não podia,
ser devido seus princípios de cidadão “certinho” e acomodado. A relação de Jack
e Tyler também pode ser encarada como dupla personalidade. Isso ocorre devido o
lado direito do cérebro que é não verbal e carrega com sigo os sentimentos,
desejos e atitudes negativas sem que o lado esquerdo que é verbal e ético tenha
consciência dessas vontades mais violentas, que logo, se personificam com o
lado obscuro vindo, até o lado de fora e com a ajuda das janelas killer, acaba
dominando o lado esquerdo que deveria ser consciente de tudo, mas que se desliga
e dá espaço para que a outra personalidade assuma.
Ao
final do filme, Jack consegue desfazer-se de Tyler acertando-o com um tiro na
parte do cérebro em que seu altere ego se localizava. Porém, o filme não tem
exatamente um final, pois tudo o que ocorreu anteriormente, terá continuidade,
já que todos os atos que cometemos, sejam eles conscientes ou inconscientes,
instintivos ou não, sempre vão ter suas consequências, seus pesares e seus
riscos. Por tanto... O melhor que podemos fazer é construirmos em nossas mentes
uma consciência critica, que pode sempre duvidar, criticar e determinar o que
fazer sobre determinado ato, assunto ou situação, para jamais deixamos que tudo
aquilo que pode nos influenciar nos domine e construa um lado seu que nunca
deveria existir. Pois quando agimos de uma forma que o nosso EU não deveria
aceitar, ferimos quem mais amamos, quem mais nos respeita, aqueles que nunca
nos fizeram mal e por fim, destruímos aqueles que um dia fomos e tínhamos
orgulho de ser.
Aquele que
não critica seus princípios
Não renova suas crenças
E se deixar destruir pelas piores influências.
(Mayke C Cardoso)
Não renova suas crenças
E se deixar destruir pelas piores influências.
(Mayke C Cardoso)